quinta-feira, 19 de junho de 2008

Você: criança-adulta - Parte I (Prólogo)


Você é aquela vaca desajeitada que dá leite e chuta o balde em seguida, e como se não bastasse lamenta depressivamente o resto da vida e se põe a chorar pelo leite derramado.
Você é aquele que vive o tempo todo se defendendo como se tivesse que prestar depoimentos sempre, só para se engrandecer ao máximo da perfeição: é você.
Você é aquele que faz caridade e cobra se não for correspondido, mas você também faz parte dos que recebem caridade e reclama por ser pouco.
Você é aquele homem bem sucedido que está num grupo social pois precisa somente pra não se sentir só em seu pequeno mundo, sempre alguém nesse grupo se supera, e não é seu caso, o que te deixa mortificado.
Você é aquele que aceita todo mundo como amigo pra bancar o rodeado, mas não assume que seus amigos realmente só estão te rodeando enquanto não estiver na roda dos miseráveis.
Você é aquele que se perde em suas razões justamente por achar que não é mais criança, se soubesse o quanto Jesus tinha de criança no espírito eterno mesmo num corpo adulto.
Você é aquele que julga todo mundo pelo simples fato de esvaziar os ressentimentos reprimidos que a sociedade arma contra seu ser, assim você pode dormir tranqüilo sabendo que existem pessoas inferiores a você.
Você é aquele político-correto planando sobre as verdadeiras mentiras ideológicas no intuito de adquirir poder e luxo, isso porque desvaloriza a verdadeira força de trabalho, o suor e mais grave ainda: suas raízes.
Você é aquele que crítica a sociedade e tenta mudar ela, sem desfrutar de leitura, de cultura, de respeito ao próximo, de conhecimento ao inimigo, sanidade intelectual e estrutura racional rigorosa, prefere estar passivo em frente á televisão.
Você é aquele Brasileiro que nega a verdadeira característica de nação, caindo num fluxo de falsos conceitos burgueses e culturas de massas podres, ainda alegando originalidade. Desconhecedor da verdadeira história trágica.
Você é aquele que acredita que não há tempo pra se aprender, pra mudar, pra crescer humanamente, independente de serem crianças ou mais velhos instruindo-o.
Você é aquele financeiramente quase bem estruturado, sem filhos e sem mulher que só pensa em si e nos seus prazeres, mas teus cabelos estão quase ausentes, e teu futuro anseia a solidão inevitável dos tempos mortais.
Você é aquele que gosta de ouvir a própria voz e os assuntos de interesses pessoais, quando alguém alheio magoado lhe bate a porta você sorri acusando-o de ser fraco, o papel de bom samaritano é mal atuado.
Você é aquela coisa que tem tudo pra dar certo, mas ao se gabar estraga a própria reputação; ainda que sua imagem explícita seja o que mais preserva.
Você é aquele estúpido que culpa a mãe por ser uma aberração ambulante e narcisista solitária que trabalha pra se divertir e divertir e divertir. A ausência de tua mãe te transformou num mal educado e o peso do pseudo-conceito.
Você é aquele sozinho que quando cai do alto não tem ninguém por perto pra lhe segurar e isso te deixa aflito e guarda medo.
Você é quem crítica o que lhe é alheio, aponta os defeitos e pré-julga preconceituosamente ás pessoas que não conhece, sendo que nem se conhece; principalmente seus valores adormecidos que não quer despertar.
Você é aquele que um dia tanto senti afetividade, em quem depositei toda minha confiança e fortaleza, mas que aos poucos foi desmoronando há medida que a verdadeira identidade foi se revelando. Na medida em que foi jogando fora todas as cartas de amor e todos os objetos que lhe entreguei como prova. Na medida em que minha aliança foi perdendo o brilho e a sua se mantém inalterada, mal foi usada. Na medida em que me diminuía na frente dos seus amigos a exemplo do que é ruim, e todas as suas qualidades tornaram-se transparentes e cobertas por uma poeira escura dos defeitos. Até na medida que separa o óleo da água é medida que separa sua pessoa da minha. Há medida no que me faz pensar nessas frases que você mais uma vez vai ler e de nada vai valer.

Desculpas?! Será que devo senão a Deus, e nem dele cobro ou peço nada, nem medidas, nem êxitos nem defeitos, sou simplesmente mais um errado na “multidão correta”.
Simplesmente um beberrão sonhador que acredita em seres pequenos e restritos.
Infelizmente alguém que se deixou levar pelos momentos e seguiu a estrada da incerteza, deixando de lado os restos duma felicidade lúcida.
Meu Deus, ás vezes chego mesmo a me ajoelhar, mas de dor, de sofrimento ou só porque os meus erros e defeitos por mim são revelados como forma de aprendizado cruel.
Aqui deixo a moral: não valorizem quem não se valoriza, pois não vai te valorizar mesmo não havendo valor. A espécie humana não tem valor, a vida não; não existem raças, nem sexualidade dominante, somos parte de um todo.
Assim como as estrelas que vemos no céu dessa noite, que são coisas mortas; há tempos passados se mantendo todas, a cada noite e guiadas pela energia solar e a este soberano também: alinhados, logo ali, todos os planetas!
E o amor, cura a dor, mas a dor também é passagem ao amor se propagar!
E todas as ciências existentes, nada neutras, explicam as formas de se relacionar, mesmo as ilhas, distantes de penínsulas e costas, são ambas refrescadas pelo mar, e o céu reflete sua claridade...

Você foi à pessoa que mais esteve comigo além das dificuldades e ditirambos desses anos, quando a casa caiu você me ajudou a reerguer.
Você pra sempre vai fazer parte de minha vida, pois fez parte da minha história, e de cada história um observador diferente.
Você teve paciências descontroladas e isso me fez amadurecer ao correr atrás das reações que a vida devolveu, meus atos criaram autonomia, mas meus sonhos sempre se mantiveram na mais sólida categoria.
Você me ensinou o que eu precisava entender sobre um adulto e favoreceu-me ao mostrar as atitudes que devo ou não tomar quanto a ser um, num dia.
Você me abraçou como a um irmão, pois a parceria esteve por um tempo em grande fé, isso me fez segurar mais forte meus amigos, mesmo sem grana.
Você me fez valorizar a pouca necessidade pra sobreviver, nunca precisei de muito pra viver, me basta lápis e papel pra abstrair o real e o surreal.
Você me lembrava a simplicidade, as poucas roupas pra vestir, os poucos móveis na casa, porque ficarão.
Você parecia não ouvir às vezes, e as músicas eram tão belas e cheias de sentimentos a expressar, ainda como estão agora. Eu só queria te ensinar a ouvir mais, o professor deve aprender com seus alunos.
Você não aprendeu a ser sutil ao encarar o próximo, evitar a mão aos possíveis aliados e meu coração sente-se inutilmente desapontado.
Você nesse xadrez me colocou no meio do tabuleiro cercado de indecisões e estratégias alternativas, odiado por lutar, maldita hierarquia e bandeira suja.
Você me fez estudar mais o verdadeiro sentido da política e da democracia, algo tão utópico nesses carnavais. Uma questão de assuntos.
Você me fez aprender a seguir em frente e reclamava quando eu acomodado perdia tempo precioso.
Você me ergueu quando cai desestruturado na sarjeta dos imprestáveis, na rua da amargura, e no quarto da solidão, neutralizava esses sentimentos e estendia os braços.
Você me fez aprender com os erros, pois erro muito, mas são pequenas coisas transformadas em grandes quando há perseverança.
Você me fez agir, havia uma energia contida e tudo o que aconteceu foram impulsos dessa relação, sei que não posso parar. Você foi você...
Criança-adulta!